Um terço dos jogadores de futebol sofre de depressão.

Um terço dos jogadores de futebol sofre de depressão.

Lesões físicas graves são principal motivo para desencadear a doença, aponta estudo.

 

por Marcelo Alves

06/10/2015 10:31 / Atualizado 06/10/2015 16:45

 

Depressão atinge um terço dos jogadores do futebol em atividade

Estudo mostra que os atletas também sofrem com distúrbios do sono e estresse. Pesquisa ouviu 826 jogadores

Um novo estudo divulgado nesta terça-feira pelo FIFPro, o sindicato internacional dos atletas, mostra que sintomas de depressão e ansiedade são mais comuns do que se imagina entre jogadores e ex-jogadores de futebol. E que o problema está se espalhando na categoria.

De acordo com o levantamento, 38% dos 607 jogadores em atividade e 25% entre os 219 ex-jogadores disseram ter sofrido de depressão ou ansiedade nas quatro semanas anteriores a que foram entrevistados. O número não apenas confirma a gravidade do problema relatada na pesquisa anterior, do ano passado, como também mostra que ele está aumentando. No estudo anterior do FIFPro, 26% dos jogadores relataram ter sofrido de depressão e ansiedade.

- O percentual de jogadores que sofrem de problemas de saúde mental aumentou ligeiramente, mas o resultado principal é que este último estudo confirma o anterior de que os jogadores profissionais são propensos a relatar os problemas durante ou após a sua carreira. Todas as partes interessadas no futebol profissional precisam ser mais conscientes sobre os problemas de saúde mental que possam ocorrer no futebol profissional - afirmou Vincent Gouttebarge, médico que coordenou a pesquisa.

O estudo do FIFPro também mostra que há uma correlação entre lesões sérias e depressão. Atletas que tiveram três ou mais contusões graves estão entre duas e quatro vezes mais propensos a sofrer com esses problemas.

- É crucial estabelecer um grupo de trabalho sobre esse importante tema. Os resultados do estudo justificam uma abordagem multidisciplinar para um jogador de futebol gravemente lesionado. Após a cirurgia, o médico responsável e o cirurgião ortopédico devem estar cientes da possível ocorrência de sintomas de problemas de saúde mental que podem acompanhar estes tipos de lesões - destaca Gouttebarge.

O médico reconhece que os clubes são muito focados na saúde dos jogadores a curto prazo, "a fim de capacitar os atletas para o desempenho em campo". Mas ele acredita que os clubes poderiam dar mais atenção aos jogadores para evitar que eles sofram destes problemas no futuro.

- Uma das principais medidas para prevenir a ocorrência de problemas de saúde mental no longo prazo (por exemplo, depois de sua aposentadoria), é ter atenção na fase inicial do planejamento da carreira. O clube poderia dar mais atenção para a educação adequada dos jogadores - afirmou.

DISTÚRBIOS DO SONO E ESTRESSE

Além de depressão e ansiedade, 23% dos atletas e 28% dos ex-atletas disseram sofrer de distúrbios do sono. Outros 15% dos atletas e 18% dos ex-atletas reportaram sofrer com problemas de estresse. Problemas como abuso de álcool foram relatados por 9% dos jogadores e 25% dos ex-atletas. O consumo de cigarro ocorre entre 4% dos atletas e 11% dos ex-atletas.

Capa do estudo do FIFPro - Reprodução / Reprodução

Na pesquisa anterior, o número de jogadores fumantes era de 7%, enquanto os que apresentavam problemas com álcool era de 19%. Gouttebarge acredita que a diminuição dos números tem relação com um maior cuidado dos atletas com a saúde.

- Podemos dizer que o estilo de vida dos jogadores melhorou. Me parece que alguns aspectos do estilo de vida dos jogadores são especialmente algo para se concentrar quando um jogador se aposenta.

A pesquisa contou com dados fornecidos por jogadores de Bélgica, Chile, Finlândia, França, Japão, Noruega, Paraguai, Peru, Espanha, Suécia e Suíça. Dos entrevistados, 55% passaram a maior parte da carreira atuando no mais alto nível. O mesmo aconteceu com 64% dos ex-atletas.

- Esperamos que o estudo aumente o alerta e o compromisso de todas as partes interessadas no futebol a colocar medidas de apoio em prática, então estes que sofrem de problemas mentais irão saber que não estão sozinhos - afirma Gouttebarge. - O presente estudo é um primeiro passo necessário e, em última análise, propõe medidas preventivas e de apoio adequadas destinadas a proteger e capacitar a saúde sustentável de jogadores e ex-jogadores.

 Fonte oglobo.globo.com